Carnaval ecológico garante a animação em Curuçá

“A Amazônia é nossa. O mangue é nosso”. Foi com esse grito de guerra que o atual coordenador do bloco Pretinhos do Mangue, Edmilson Campos, o Cafá, iniciou o desfile carnavalesco que inseriu o município de Curuçá no mapa nacional – e internacional - do Carnaval. Foi a deixa para que centenas de pessoas cobertas de lama do mangue dos pés à cabeça começassem a folia pelas ruas da cidade. A mistura de carnaval e ecologia já é reconhecida no mundo todo, para orgulho dos moradores de Curuçá.

O bloco saiu às 16 horas, mas pelo menos uma hora antes já havia gente na “concentração” à espera do momento de saída do bloco. Por concentração, entendase caipirinha, cerveja e vinho barato à vontade e uma entrada no mangal para lambuzar o corpo. “Nosso carnaval é diferenciado. Não existe outro no mundo que tenha essas mesmas características”, diz Cafá.

E é pensando nessa originalidade que uma Organização Não Governamental será criada. A ideia é constituir legalmente o bloco para que recursos possam ser captados. A ONG deverá se chamar Organização Sócio-Ambiental e Cultural de Curuçá Pretinhos do Mangue. “Fazemos um carnaval de raiz. Por isso que esse ano, por intermédio da ONG Cabanos, entramos com um projeto na Secretaria de Cultura chamado ‘Raízes do Mangue’. O projeto foi aprovado e recebemos ajuda da Secult para a promoção do nosso carnaval”, afirma Cafá.

O recado da festa aliada à preservação ambiental foi acolhido pelos brincantes. Muitos levavam cartazes e faixas que lembravam a preservação do mangue. Atrás dos brincantes, duas associações de catadores de lixo recolhiam materiais como latinhas de garrafa. Quem arrecadasse mais lixo ganharia um prêmio ofertado pela Secretaria de Meio Ambiente de Curuçá. A festa tem atraído gente de longe. Juliana Kopsk veio de Londrina, no Paraná. Quando chegou a Curuçá perguntou onde poderia comprar o “abada”. Duas horas depois já estava lambuzada dos pés a cabeça. Só os óculos escaparam.

Para animar os brincantes, a banda Lauro Sodré executou diversas marchinhas de Carnaval. A música baiana, que toma conta do país nessa época do ano, passou ao largo. Atrás do trio, centenas de pessoas enlameadas.

Além do trio elétrico, dois carros alegóricos lembravam o sentido da festa. No primeiro, um caranguejo abria o caminho. No segundo, uma garça. “Queremos lembrar sempre às pessoas o sentido do mangue em nossas vidas. É quem nos dá tudo. Todo o nosso sustento é proveniente dos manguezais”, dizia Cafá, enrolado nas bandeiras do Pará e do município.

E se alguém perguntar qual é a origem do bloco, vai ouvir várias versões. A oficial é que em 1989 um grupo de amigos resolveu, em plena terça-feira gorda, apanhar uns caranguejos para fazer um tira-gosto. Enlameados, continuaram a se divertir. Mas foi só em 2000 que o nome Pretinhos do Mangue foi adotado definitivamente pelo bloco.

Mas nem só de Pretinhos do Mangue vive o carnaval de Curuçá. Só no domingo foram 16 blocos das mais variadas vertentes. Os Salientes, Galo de Pinote, Tigre Kids, As Curuçaenses (bloco formado apenas por homens vestidos de mulher), Boi Prosa, Os Pilantras, Patinha Maluca, Êta Lasquera, Tigre Ceguinho, A Grande Família, Maisena, Palheteira e Matinta fizeram a festa na primeira noite de Carnaval em Curuçá.

fonte: Diário do Pará 23/02/2009